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Terapia do Esquema

Guia prático de Terapia do Esquema

31 de agosto de 2020

Guia prático de Terapia do Esquema

Com frequência me perguntam em qual linha eu atendo, e para satisfazer a curiosidade de alguns, esclarecer as dúvidas de outros, criei este Guia para falar ̶d̶a̶ ̶m̶i̶n̶h̶a̶ ̶p̶a̶i̶x̶ã̶o̶  da Terapia do Esquema.

Desenvolvi este guia explicativo, com o intuito de esclarecer aos os interessados e aos pacientes, de modo básico e de fácil entendimento, o que de fato é a Terapia do Esquema - uma linha de terapia tão interessante e que merece ser mais conhecida.

O que é a Terapia do Esquema - TE

Desenvolvida por Jeffrey Young (1990, 1999), a Terapia do Esquema é uma linha de Psicoterapia que amplia técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental tradicional, com conceitos da Terapia do Apego, da Gestalt Terapia, da Psicanálise e da Terapia Interpessoal (existem diversas abordagens da Psicologia, posso falar sobre elas, se quiser é só comentar abaixo).

A TE surge para se adequar à pacientes que até então eram considerados difíceis, com queixas crônicas, que não estavam sendo recebidos de forma adequada pela TCC: os chamados “insucessos de tratamento”. A Terapia do Esquema destina-se ao tratamento dos Transtornos de Personalidade, problemas conjugais sérios, dificuldades no relacionamento interpessoal, dentre outras demandas.

Baseia-se do estudo dos Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs) e de Necessidades Emocionais Básicas. Segundo esta terapia, todos nós passamos por fases da vida onde sentimos necessidades emocionais, que deveriam ser atendidas para a construção de um adulto saudável e capaz de lidar com as adversidades da vida. Porém, é praticamente impossível que todas nossas necessidades sejam plenamente satisfeitas. Aí surgem os Esquemas, que são crenças centrais criadas desde a infância.

As dificuldades surgem quando, já adulto, o indivíduo continua utilizando as mesmas estratégias infantis de enfrentamento em contextos não tão saudáveis para si. É aí que a Terapia do Esquema busca estabelecer a mudança, da criança frágil para o adulto saudável.

Esta abordagem tem duração de breve, médio ou de longo prazo, dependendo do paciente e da dinâmica da demanda apresentada, dividindo-se em fase de Psicoeducação, Avaliação e Mudança. Neste período o paciente irá, com o auxílio do terapeuta, aprender sobre seus esquemas, entendê-los, observá-los e assim mudar seus comportamentos e grau de influência deles sobre seu cotidiano.

Então o que são esquemas?

Somos todos essencialmente diferentes, únicos na maneira de ser e viver, e essas exclusividades também acontecem quando enfrentamos nossos problemas.

Desde a infância aprendemos da nossa maneira como conseguir atenção, carinho, segurança de nossos pais e criadores. Você pode ter sido uma criança chorona, quieta, brava, impulsiva, inteligente, astuta, ou qualquer outra qualidade, mas se está vivo até hoje é por que conseguiu que suas necessidades fossem atendidas.

Os Esquemas, resumidamente, são padrões particulares que criamos para sobreviver e termos nossas necessidades satisfeitas, a partir do nosso temperamento, da nossa criação e das nossas experiências de vida.

Porém, algumas pessoas percebem que seus comportamentos não surtem efeito, causando perdas significativas nos relacionamentos, na profissão, bem como a frustração, sentimento de perda, privação, fracasso, ansiedade entre outros. É aqui que falamos em Esquemas Iniciais Desadaptativos (EID’s).

Aprendemos esses esquemas negativos com nossos pais, irmãos, colegas e parceiros, que contribuem para uma visão errada de nós mesmos, e podem fazer isso de diversas maneiras. Por exemplo, um pai pode exigir do filho com frequência e dizer “Você poderia se sair melhor uma vez na vida – por que tirou aquele 9?”, sua mãe “Você não puxou nada de mim, suas coxas são muito gordas e seu nariz é feio igual o do seu pai”, sua tia “Seu primo foi para Harvard – por que você não pode ser mais parecido com ele?” ou seu companheiro  “Por quê está sempre reclamando? Não percebe que faço de tudo por você?”. Frases que, se ditas com frequência e intensidade, podem criar uma visão negativa da pessoa em relação a si mesma, fazendo-a agir de maneira não-saudável.

Os EID’s são crenças importantes que criamos de nós mesmos, nosso ambiente e nossos relacionamentos, mas que são aceitos como verdades absolutas sem questionar e são muito resistentes à mudança. Nós até internalizamos esquemas a partir da cultura popular, como imagens de ser magro, simpático, ter corpo esbelto, sexo perfeito, rios de dinheiro e enorme sucesso. Essas imagens irreais e impossíveis de se atingir reforçam os esquemas, fazendo sentir inferior, inadequado e imperfeito.

Cada um de nós vê as situações vivenciadas em um padrão de pensamento, que geram diversos tipos de comportamento. Um Esquema Desadaptativo é identificado por padrões de pensamento e comportamento, que causam sofrimento. Por exemplo:

“Luciana possui um medo intenso de ser abandonada. Se queixa muito de seus namoros sem sucesso e de estar sempre sozinha. Até que conhece uma pessoa nova, e as coisas parecem estar indo bem para ela, passa a se envolver e começar a namorar. Mas então um dia seu companheiro teve de ficar até mais tarde no trabalho, e isso ativou fortemente seu esquema sobre abandono – Luciana começa a pensar em quantas vezes já se sentiu rejeitada, e passa a exigir atenção em dobro, querendo ficar perto do companheiro 24h por dia, com ciumes, cobranças e exigências, pensando ser a melhor maneira de evitar o término. Um contratempo pequeno, que desencadeia diversos sentimentos ruins. Luciana se lembra de sentir o abandono desde pequena pelos seus pais, e para evitar sentir essa dor novamente, busca ser a melhor namorada, exagerando nas exigências e atitudes. O namorado percebendo a mudança de Luciana, se sente sufocado com tanta cobrança e acaba terminando o relacionamento. 

E assim, Luciana repete o padrão de abandono e de sempre estar sozinha.”

Este é apenas um exemplo superficial de um EID de Abandono (que pode se manifestar de diversas outras maneiras). Atualmente podemos identificar 18 tipos de esquemas, em seus variados tipos de atuação, os quais se dividem em 5 domínios de acordo com as necessidades que deveriam ter sido atendidas, são eles:

1° Domínio: Ser aceito e se sentir pertencido (O caso de Luciana);

2° Domínio: Ter um senso de autonomia e competência;

3º Domínio: Ter recebido limites realistas;

4º Domínio: Ter sido respeitado em seus desejos;

5º Domínio: Conseguir ter uma expressão emocional legítima;

Nossos Esquemas exercem grande influência sobre o nosso comportamento, e visam garantir a sua própria sobrevivência por meio de três processos: manutenção, evitação e compensação.

Resumidamente, com o exemplo do Esquema de Fracasso, pode-se enfrentar:

  • Compensando aquele medo (se esforça para sempre ser o primeiro lugar da classe e não se sentir fracassado)
  • Evitando o medo (não vai à aula)
  • Mantendo o medo (já que sabe que será um fracasso nas provas então não se esforça para estudar)

Todos estes processos levam ao mesmo caminho: aquele que compensa nunca será sempre primeiro lugar, aquele que não vai à aula nunca irá bem em suas provas assim como aquele que não se esforça para estudar. Confirmando assim o esquema de Fracasso nas três situações.

Como a Terapia do Esquema Poderá Ajudar?

De acordo com o Professor Ricardo Wainer, doutor em Psicologia e diretor da Wainer Psicologia Cognitiva, um dos grandes diferenciais da TE é obter resultados de mudanças profundas no modo de enfrentar e de aceitar as dificuldades, vencendo resistências muito grandes, com conquistas terapêuticas têm manutenção ao longo do tempo.

A TE pode ajudá-lo:

  • Em problemas conjugais, no emprego, na vida social.
  • Aprendendo quais são seus esquemas.
  • Examinando como seus esquemas foram aprendidos.
  • Aprendendo como você compensa, mantém e evita seus esquemas.
  • Aprendendo como os esquemas são mantidos ou reforçados pelas escolhas que você fez ou as experiências que teve.
  • Modificando e curando os esquemas.

*As informações contidas neste guia não substituem o tratamento e avaliação profissional.

Espero que tenha gostado de conhecer um pouco sobre esta linha de terapia tão incrível, a qual escolhi para minha formação. Vou adorar esclarecer qualquer dúvida, receber alguma cítica ou sugestão, é só comentar abaixo :)

Referências:

Página: Terapia do Esquema

Site Psicologiario

YOUNG, Jeffrey E. – Terapia Cognitiva para Transtornos da Personalidade, 3ª Edição, Editora Artmed.

YOUNG, Jeffrey E.  Terapia do Esquema: Guia de Técnicas Cognitivo-Comportamentais Inovadoras –Editora Artmed

Éllen Martins Salvador
Autor

Éllen Martins Salvador

Psicóloga e supervisora clínica, CRP 08/24797. Terapeuta do Esquema pela Wainer Psicologia, credenciada pelo ISST (International Society of Schema Therapy). Membro da Australian BPD Foundation. Certificada em "Gestão Psiquiátrica Geral para Transtorno de Personalidade Bordeline" pela Escola de Medicina de Harvard. Coordenadora do grupo de estudos em Terapia do Esquema pelo IPTC (Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva). Palestrante na área de Prevenção ao Suicídio e Saúde Mental.

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